Com o título “O Advento da Misericórdia”, eis artigo do padre Rafhael Silva Maciel, reitor do Seminário Propedêutico e Missionário da Misericórdia. Ele aborda esse tempo de perdão aberto, nesse domingo, no mundo pelo papa Francisco. Confira:
Faz poucos dias o Papa Francisco inaugurou para toda a Igreja um Jubileu extraordinário: o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Esta iniciativa divina foi anunciada pelo próprio Santo Padre, no dia 13 de março de 2015, por ocasião de uma Celebração Penitencial de Quaresma. Disse, naquela ocasião o Papa: “Queridos irmãos e irmãs, pensei muitas vezes no modo como a Igreja pode tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que começa com uma conversão espiritual; e devemos percorrer este caminho. Por isso decidi proclamar um Jubileu extraordinário que tenha no seu centro a misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: ‘Sede misericordiosos como o Pai’ (cf. Lc 6, 36). E isto, sobretudo para os confessores. Muita misericórdia!”. Assim, durante o ano de 2015 fomos nos preparando, como que vivendo um advento à espera da abertura deste tempo de graça e de conversão do Ano Santo da Misericórdia.
Advento é uma palavra já conhecida no nosso vocabulário religioso e litúrgico. Significa a espera por alguém que está por vir. Preparamo-nos durante este período do advento de modo mais imediato para o Natal do Senhor; aguardamos com alegria por Aquele que é o Prometido às Nações, o Príncipe da Paz.
Jesus veio de modo simples e escondido para realizar o plano de salvação do Pai, para em tudo realizar a vontade do Pai. E submeteu-se à fragilidade de uma criança e a todas as intempéries de condição humana e do seu tempo, como já dizia Bento XVI, no Advento de 2012: “Deus não se fechou no seu céu, mas inclinou-se sobre as vicissitudes do homem: um mistério grande que chega a superar qualquer expectativa possível. Deus entra no tempo do homem do modo mais impensado: fazendo-se menino e percorrendo as etapas da vida humana, para que toda a nossa existência, espírito, alma e corpo (…) possa conservar-se irrepreensível e ser elevada às alturas de Deus. E faz tudo isto pelo seu amor fiel pela humanidade” (Homilia nas I Vésperas, 01.12.2012).
Agora, o Senhor deseja encontrar-se novamente com todas as pessoas, num novo advento; um advento de misericórdia. Num mundo tão marcado por violência, por guerras, por crimes bárbaros contra a dignidade humana; num tempo marcado pelo relativismo moral e ético, pela busca desenfreada por autonomia, pela ditadura das ideologias, pela falta de sensibilidade para com os que estão nas periferias existenciais; o Senhor, por meio do Santo Padre Francisco, está propondo para toda a Igreja e para os homens e mulheres de boa vontade, um advento de misericórdia, por que Deus foi misericordioso com a humanidade, enviando-nos seu Filho para nos salvar. Um tempo onde possamos mostrar ao mundo a face misericordiosa de Deus.
Dizia sobre esse ponto, o Papa Francisco: “Por que motivo um Jubileu da Misericórdia, hoje? Simplesmente porque a Igreja é chamada, neste tempo de grandes mudanças epocais, a oferecer mais vigorosamente os sinais da presença e proximidade de Deus. Este não é o tempo para nos deixarmos distrair, mas para o contrário: permanecermos vigilantes e despertarmos em nós a capacidade de fixar o essencial. É o tempo para a Igreja reencontrar o sentido da missão que o Senhor lhe confiou no dia de Páscoa: ser sinal e instrumento da misericórdia do Pai (cf. Jo 20, 21-23). Por isso o Ano Santo deverá manter vivo o desejo de individuar os inúmeros sinais da ternura que Deus oferece ao mundo inteiro, e, sobretudo a quantos estão na tribulação, vivem sozinhos e abandonados, e também sem esperança de ser perdoados e sentir-se amados pelo Pa\i (Homilia 11,04.2015).
É comum o chavão de dizermos que é preciso, no advento, preparar nosso coração para que Jesus nasça nele. E isso é verdade! Mas, esse novo nascimento do Senhor nos corações precisa fazer gerar em cada um “os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5). Cada coração deve estar se preparando deixando que o Amor encontre mais espaço dentro de si. E como o Amor encontrará espaço maior em nossos corações? O Papa Francisco dizia algo bem pedagógico para os fieis na homilia do III Domingo do Advento de 2014: rezar e dar graças, e ainda mais transmitir notícias boas aos outros (porque somos cristãos!). O Papa, na mesma ocasião assim resumia: “rezemos, para pedir a alegria do Natal. Demos graças a Deus por tudo aquilo que Ele nos concedeu, antes de tudo pela fé. Esta é uma graça grandiosa. Em terceiro lugar, pensemos onde posso ir levar um pouco de alívio, de paz a quantos sofrem. Oração, ação de graças e ajuda ao próximo.
Assim podemos ter meios bem concretos para deixar que este Advento da Misericórdia seja eficaz em nossa vida e em nossas comunidades. Um advento de gestos concretos, que vão desde a oração e confissão sacramental até a caridade operativa para a qual o Evangelho e a vida de oração nos impelem.
Abriu-se para nós uma Porta Santa! Jesus é a Porta (Jo 10,7). Todos os anos nós recordamos que essa Porta Santa, que é Jesus, foi aberta para nós com o seu nascimento, com a sua Encarnação. Ele fez-se Porta da Misericórdia, aberta para todos. O Papa Francisco na Bula Misericordiae Vultus, n.1, diz: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. (…) O Pai, ‘rico em misericórdia’ (Ef 2, 4), depois de ter revelado o seu nome a Moisés como ‘Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade’ (Ex 34, 6), não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a sua natureza divina. Na ‘plenitude do tempo’ (Gl 4, 4), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor. Quem O vê, vê o Pai (cf. Jo 14, 9). Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus”.
Assim, preparemo-nos bem, neste Advento, para entrarmos de corpo, alma e espírito no Ano Santo da Misericórdia. Pedindo “um Ano em que sejamos tocados pelo Senhor Jesus e transformados pela sua misericórdia para nos tornarmos, também nós, testemunhas de misericórdia” (Papa Francisco, Homilia, 11/04/2015). Por fim, que a Mãe da Misericórdia interceda por nós, “para compreendermos o compromisso a que somos chamados, e nos obtenha a graça de vivermos, com um testemunho fiel e fecundo, este Jubileu da Misericórdia” (idem), neste advento da Misericórdia.
* Padre Rafhael Silva Maciel, Reitor do Seminário Propedêutico e Missionário da Misericórdia.
Fonte: Blog do Eliomar
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