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Palavra do Pastor

Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques, Arcebispo Metropolitano de Fortaleza

29 de jun. de 2016

Os ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio


Os Ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio: uma resposta aos desafios de um mundo secularizado
Índice:
“Todos os sacerdotes somos Cristo”. Eucaristia e identificação com Cristo
“Empresto ao Senhor minha voz”. Familiaridade com a Palavra e disponibilidade para as almas
“Empresto ao Senhor minhas mãos”. Amor a liturgia e obediência à Igreja
“Empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser”. Sacerdote cem por cento
Fazer a Deus presente em todas as atividades humanas é o grande desafio dos cristãos num mundo secularizado, e é a tarefa que São Josemaría recordou a milhares de pessoas – sacerdotes e leigos – durante a sua vida. Sua mensagem pode resumir-se em poucas palavras: santidade pessoal no meio do mundo.
Jesus Cristo se fará presente e ativo no mundo quando: nas famílias, na fábrica, nos meios de comunicação, no campo…, na medida em que Cristo vive no pai e na mãe de família, no trabalhador, no jornalista, no camponês…, isto é, na medida em que o trabalhador, o jornalista, o esposo ou a esposa sejam santos. Como afirmou João Paulo II, “é necessário arautos do Evangelho expertos em humanidade, que conheçam a fundo o coração do homem de hoje, participem de suas alegrias e esperanças, de suas angústias e tristezas, e ao mesmo tempo sejam contemplativos, enamorados de Deus. Para isto são necessários novos santos. Os grandes evangelizadores (…) foram os santos.Devemos suplicar ao Senhor que aumente o espírito de santidade na Igreja e nos mande novos santos para evangelizar o mundo de hoje”. (Discurso ao Simpósio de Bispos europeus, 11.10.1985).
Este é o segredo diante da indeferença e do esquecimento de Deus: nosso mundo precisa de santos, qualquer outra “solução” é insuficiente. O mundo atual, com a sua instabilidade e suas profundas mudanças, reclama a presença de homens santos, apostólicos, em todas as atividades seculares: “Um segredo. Um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana. – Depois… ‘pax Christi in regno Christi’ – a paz de Cristo no reino de Cristo” (São Josemaría. Caminho, n. 301).
A ausência de Deus na sociedade secularizada traduz-se na falta de paz, e, como consequência, prolifera-se as divisões: entre as nações, nas famílias, no lugar de trabalho, na convivência diária… para encher de paz e de alegria estes ambientes, “temos que ser, cada um de nós, alter Christus, ipse Christus, outro Cristo, o mesmo Cristo. Somente assim poderemos empreender essa grande empresa, imensa, interminável: santificar desde dentro todas as estruturas temporais, levando aí o fermento da Redenção” (São Josemaría, É Cristo que passa, n. 183). Todos nós estamos chamados a colaborar nesta tarefa apaixonante, com uma visão otimista diante do mundo em que vivemos: “Para ti, que desejas formar-te num mentalidade católica, universal, transcrevo algumas características: (…) uma atitude positiva e aberta ante a transformação atual das estruturas sociais e das formas de vida” (São Josemaría, Sulco, n. 428).
Nesta tarefa de transformação do mundo, percebe-se também o importante papel do sacerdote. Porém, quem é o sacerdote na sociedade de hoje? Como pode converter-se em fermento de santidade? A esta pergunta pode-se responder desgranando umas palavras de São Josemaría que definem a identidade do sacerdote, também no mundo secularizado: “Todos os sacerdotes somos Cristo. Empresto ao Senhor minha voz, minhas mãos, meu corpo, minha alma: dou-lhe tudo” (São Josemaría, Anotações de uma reunião familiar em 10.05.1974, citado por J. Echevarría, Por Cristo, con Él y en Él, Ed. Palabra, Madrid 2007, p. 167).
1. «Todos os sacerdotes somos Cristo».
Eucaristia e identificação com Cristo.
Certamente são os leigos que, de modo capilar, fazem presente a Cristo nas encruzilhadas do mundo. Ao mesmo tempo, a vida de Cristo que se inicia no Batismo necessita do ministério sacerdotal para desenvolver-se. A grandeza do sacerdote consiste em que se lhe foi concedido o poder de vivificar, decristificar. O sacerdote é “instrumento imediato e diário dessa graça salvadora que Cristo ganhou-nos”. O sacerdote traz a Cristo “a nossa terra, a nosso corpo e a nossa alma, todos os dias: Cristo vem para alimentar-nos, para vivificar-nos” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade,13.IV.1973).
Como pastor de almas e como dispensador dos mistérios de Deus (cf. 1Co 4, 1), o sacerdote, especialmente num mundo indiferente à fé, deve alentar a todos para que progridam em direção à santidade, sem rebaixar – por covardia ou por falta de fé – o horizonte do mandato divino: sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5, 48). O sacerdote orientará a outros nesse caminho à santidade se ele mesmo reconhece esse imperativo, e se é consciente de que Deus colocou em suas mãos os meios para alcança-lo. O grande desafio para o sacerdote consiste em identificar-se com Cristo no exercício do seu ministério sacerdotal, para que muitos outros também busquem esta configuração com o Senhor, no desempenho das suas tarefas habituais.
A identificação com Cristo sacerdote fundamenta-se no dom do sacramento da Ordem, e se desenvolve na medida em que o sacerdote põe nas mãos de Cristo tudo o que ele é. Isso acontece de modo paradigmático e excelente durante a celebração da Eucaristia. Na Missa, o sacerdote empresta seu ser a Cristo para trazer a Cristo. São Josemaría expressava esta verdade com uma força singular:
“Ao chegar ao altar a primeira coisa que pensa é: Josemaría, tu não é Josemaría Escrivá de Balaguer (…): és Cristo (…). É Ele quem diz: isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue, é Ele que consagra. Se não, eu não poderia fazê-lo. Ali se renova de modo incruento o divino Sacrifício do Calvário. De maneira que estou ali inpersona Christi, fazendo as vezes de Cristo” (São Josemaría, Anotações tomadas…, cit.).
Esta identificação com o Senhor é uma característica essencial da vida espiritual do sacerdote. Como dizia São Gregório Magno, “nós que celebramos os mistérios da paixão do Senhor, temos que imitar o que fazemos. E então a hóstia ocupará nosso lugar diante de Deus, se nos fazemos hóstias nós mesmos” (São Gregório Magno, Lib. Dialogorum, 4, 59, citado em São Josemaría Escrivá de Balaguer,Carta 8-VIII-1956, n. 17).
A inteira existência sacerdotal se orienta ao que o próprio eu diminua, para que cresça Cristo no presbítero: ocultar-se, sem buscar protagonismo, para que apareça somente a eficácia salvadora do Senhor; desparecer, para que Cristo se faça presente através do exercício abnegado e humilde do ministério. Ocultar-se e desaparecer (São Josemaría, Camino, edición crítico-histórica preparada por P. Rodríguez, 3ª edición, Rialp, Madrid 2004, p. 945) é uma fórmula que São Josemaría gostava muito. Convida especialmente ao sacerdotes a preferir o sacrifício escondido e silencioso (São Josemaría,Caminho, n. 185.) às manifestações ostentosas ou chamativas.
Paradoxalmente, para contrarrastar a ausência de Deus num mundo secularizado, São Josemaría propõe aos sacerdotes, não tanto uma forte atividade pública, com a sua correspondente ressonância mediática, senão, simplesmente, ocultar-se e desaparecer. Deste modo, ao desaparecer o “eu” do sacerdote, se propagará a presença de Cristo no mundo, segundo a lógica divina que se manifesta na celebração da Eucaristia.
“Parece-me que aos sacerdotes se nos pede a humildade de aprender a não estar de moda, de ser realmente servos dos servos de Deus – lembrando-nos daquele grito de João Batista: illum oportet crescere, me autem minui (Jn 3, 30); convém que Cristo cresça e que eu diminua –, para que os cristãos correntes, os leigos, façam presente, em todos os ambientes da sociedade, a Cristo (…). Quem pensa que, para que a voz de Cristo faça-se ouvir no mundo de hoje, é necessário que o clero fale ou se faça sempre presente, não entendeu muito bem a dignidade da vocação divina de todos e de cada um dos fiéis cristãos” (São Josemaría, Conversaciones, n. 59).
A existência sacerdotal consiste em colocar tudo o que é próprio a mercê de Deus: emprestar a voz ao Senhor, para que Ele fale; emprestar-lhe as mãos, para que Ele atue; emprestar-lhe o corpo e a alma, para que Ele cresça no sacerdote e, através do seu ministério, em cada um dos fiéis cristãos. Diante dos desafios do nosso mundo, São Josemaría, ensina aos sacerdotes humildade e abnegação: colocar inteiramente a disposição do Senhor o próprio eu.
2. «Empresto ao Senhor minha voz».
Familiaridade com a Palavra e disponibilidade para as almas.
A Eucaristia “reúne em si todos os mistérios do cristianismo. Celebramos, por tanto, a ação mais sagrada e transcendente que os homens, pela graça de Deus, podemos realizar nessa vida” (São Josemaría, Conversaciones, n. 113). O sacerdote empresta a sua voz ao Senhor, de modo inefável ao pronunciar as palavras da consagração, que permitem que a força de Deus Pai, Filho e Espírito Santo realize o prodígio da transubstanciação. A eficácia dessas palavras não está no sacerdote, mas em Deus. O sacerdote, por si mesmo, não poderia dizer eficazmente “isto é o meu corpo”, “este é o cálice do meu sangue”: pois não se produziria a conversão do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo. Isto, que sucede de modo extraordinário durante a celebração eucarística, no momento mais sublime da vida do sacerdote, pode-se estender analogamente a toda sua vida e seu ministério.
A eficácia da palavra do sacerdote – na pregação, na celebração dos sacramentos, na direção espiritual e no trato com as pessoas – provém do mesmo princípio: emprestar sua voz ao Senhor.
a)      Familiaridade com a voz de Deus;
Emprestar ao Senhor a própria voz requer confiança nEle, requer escutar a voz de Deus e incorporá-la na própria vida. Para adquirir essa familiaridade, São Josemaría indica dois caminhos imprescindíveis: a vida de oração e o estudo. O Sacerdote deve dedicar tempo para estudar e meditar a Sagrada Escritura e a aprofundar sua formação teológica, para que ressoe fielmente a voz de Cristo, que fala em sua Igreja.
“A pregação da palavra de Deus exige vida interior: devemos falar aos demais das coisas santas, ex abundantia enim cordis, os loquitur (Mt 12, 34); da abundância do coração, fala a boca. E junto com a vida interior, estudo: (…) Estudo, doutrina que incorporamos na própria vida, e que somente assim saberemos dar aos demais do modo mais conveniente, acomodando-nos as suas necessidades e circunstâncias com dom de línguas” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 25).
O povo cristão está sedento da voz de Deus. E o sacerdote não pode decepcionar esses santos desejos. No mundo de hoje, no qual abunda a confusão, é necessário que o sacerdote seja o porta-voz fiel da Palavra divina: ter vida interior e estudar a doutrina, deve assegurar que a pregação não seja eco de outras vozes que não são de Cristo. Seguir confiadamente o Magistério é garantia que Cristo seja escutado na Igreja e no mundo. São Josemaría animava também aos sacerdotes a pedir luzes ao Espírito Santo, para serem somente instrumentos seus, pois é o Paráclito quem atua no interior da alma (cf. Santo Tomás, STh II-II, q 177, a. 1c.). Emprestar a voz a Deus significa também que o sacerdote não prega sobre si mesmo, mas sim de Cristo Jesus, Nosso Senhor (cf. 2Co 4, 5), fazendo eco do Evangelho. Deste modo, a eficácia da pregação virá do Senhor mesmo.
“Das palavras de Jesus Cristo bem expostas, claras, doces e fortes, cheias de luz, pode depender a solução do problema espiritual de uma alma que os escuta, desejosa de aprender e a determinar-se.A palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração (Hb 4, 12)” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 26).
De alguma maneira, o sacerdote deve aspirar a mesma intimidade com a Palavra de Deus que teve Santa Maria. Bento XVI, a propósito do Magnificat, “completamente costurado pelos fios tomados da Sagrada Escritura”, descreve era familiaridade da Virgem nos seguintes termos: “Fala e pensa com a Palavra de Deus, a Palavra de Deus se converte em sua palavra, e sua palavra nasce da Palavra de Deus. Assim se manifesta, além disso, que seus pensamentos estão em sintonia com o pensamento de Deus, que o seu querer é um querer com Deus” (Bento XVI, Carta Encíclica Deus caritas est, n. 41).
O Santo Padre vai mais além, ao sinalar que a Virgem, “ao estar intimamente penetrada pela Palavra de Deus, pode converter-se em mãe da Palavra encarnada” (Ibid.). algo parecido acontece com o sacerdote; São Josemaría dizia, referindo-se à Eucaristia que, assim como Nossa Mãe trouxa uma vez ao mundo a Jesus, “os sacerdotes o trazem a nossa terra, a nosso corpo e a nossa alma, todos os dias” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).
Emprestar ao Senhor a voz requer humildade: calar opiniões pessoais em questões de fé, moral e disciplina eclesiástica quando são dissonantes; não apegar-se às próprias ideias, buscar a união com desejos de servir. É necessário que o sacerdote fale aos homens de Cristo, comunique a doutrina de Cristo como fruto da própria vida interior e do estudo: com santidade pessoal e conhecimento profundo da vida dos homens e das mulheres do seu tempo.
b)      Disponibilidade para emprestar a voz ao Senhor;
Emprestar a voz requer também disponibilidade. São Josemaría não se cansou de pedir aos sacerdotes que dedicassem tempo na administração do perdão divino. Para que a voz misericordiosa de Deus chegue às almas através do sacramento da Reconciliação, é necessária uma condição, quase óbvia, porém fundamental: estar disponíveis para atender os que se aproximam. Seria um erro pensar que, no nosso mundo, suporia uma perda de tempo. Seria equivalente a fechar a boca de Deus, que deseja perdoar por meio de seus ministros. São Josemaría tinha bem experimentado que, quando o sacerdote, com constância, um dia após o outro, dedica um tempo a esta tarefa, estando fisicamente no confessionário, esse lugar de misericórdia termina por encher-se de penitentes, embora ao princípio não venha ninguém. Assim descrevia a um grupo de sacerdotes diocesanos em Portugal, em 1972, o resultado de perseverar nessa tarefa.
“Não os deixarão viver, nem podereis rezar nada no confessionário, porque vossas mãos ungidas estarão, como as de Cristo – confundidas com elas, porque sois Cristo – dizendo: eu te absolvo. Amai o confessionário. Amai-o, amai-o”! (São Josemaría, Anotações de uma reunião com sacerdotes diocesanos em Enxomil (Oporto), 10-V-1974).
São Josemaría tinha uma fé vivíssima na verdade real de que o sacerdote é Cristo, quando diz: “eu te absolvo”. Com grande sentido sobrenatural e com sentido comum, dava conselhos muito práticos, para que a dignidade do sacramento não se obscurecesse, para que fosse um canal limpo da voz de Jesus Cristo. Por isso amava o confessionário. Entendia que, utilizando esse tradicional instrumento, fomentam-se as disposições adequadas – tanto do penitente como do confessor – para facilitar a sinceridade e o tom sobrenatural próprio de uma realidade sagrada.
“Deus nosso Senhor conhece bem a minha e a vossa debilidade: somos todos nós homens correntes, porém Cristo quis converter-nos num canal que faça chegar as águas de sua misericórdia e de seu Amor a muitas almas” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 1).
Falava da administração do sacramento da Penitência como um exercício deleitável e uma paixão dominante do sacerdote. Sem dúvida, as horas diárias dedicadas a confessar, “com caridade, com muita caridade, para escutar, para advertir, para perdoar” (Ibid., n. 30) fazem parte de esse ocultar-se e desaparecer, tão eficaz para fazer presente a Cristo nas pessoas e nos ambientes onde vivem.
Ao confessar, o sacerdote – no seu papel de juiz, mestre, médico, pai e pastor – experimenta a necessidade de dar doutrina clara, ante as dificuldades que se apresentam na vida dos penitentes. Consciente disso, São Josemaría fomentou entre os presbíteros um vivo afã de conservar e melhorar a ciência eclesiástica, “especialmente a que necessitais para administrar o sacramento da Penitência” (Ibid., n. 15). “Procurai – escrevia em uma oração a sacerdotes – dedicar um tempo do dia – embora sejam somente alguns minutos – ao estudo da ciência eclesiástica” (Ibid.). Com este fom, impulsionou também encontros, convívios, reuniões para os presbíteros, etc.
O renascer da prática da confissão sacramental é um dos grandes desafios do mundo atual, que necessita redescobrir o sentido do pecado e experimentar a alegria da misericórdia de Deus. O sacerdote, estando disponível para celebrar o sacramento da Reconciliação, e procurando – mediante a oração e o estudo – que suas ideias estejam em sintonia com a doutrina da Igreja, é absolutamente insubstituível.
Os fiéis leigos devem sentir também a responsabilidade de levar seus colegas, parentes e amigos ao sacerdote, para que possam “escutar a voz de Deus” e receber seu perdão. A colaboração entre leigos e sacerdotes, neste campo, é especialmente importante na sociedade de hoje.
São Josemaría entendia que o sacerdote, também na tarefa de direção espiritual, é um instrumento para fazer chegar às almas a voz de Deus; nesta tarefa não deve sentir-se nem “proprietário”, nem modelo: “O modelo é Jesus Cristo; o modelador, o Espírito Santo, por meio da graça. O sacerdote é o instrumento, e nada mais” (Ibid., n. 37). A direção, outra das paixões dominantes de São Josemaría, não consiste em mandar, mas em abrir horizontes, sinalizar obstáculos, sugerindo os meios para vencê-los, e impulsionar ao apostolado. Animar,, em definitiva, a que cada um descubra e queira cumprir o desígnio de santidade que Deus tem para ele.
Isto é possível se o mesmo sacerdote está convencido de que propor a busca da santidade é levar as pessoas à felicidade. Esta persuasão surge da luta do presbítero pela própria santificação, é fruto do amor à vontade de Deus e é necessária para combater o pensamento laicista, que tende a excluir a Deus do horizonte da felicidade humana.
3. «Empresto ao Senhor minhas mãos».
Amor a liturgia e obediência a Igreja.
Na Santa Missa, é Cristo aquele que, através do sacerdote, oferece-se ao Pai pelo Espírito Santo. As mãos do presbítero, ungidas durante a cerimônia de ordenação, sempre foram veneradas pelos cristãos, porque trazem a Cristo, porque são dispensadoras dos tesouros da redenção.
São Josemaría tinha uma via consciência de que a liturgia é ação divina, sagrada, e não ação humana. Se um mundo descristianizado caracteriza-se, em boa parte, pela ausência do sagrado, o sacerdote tem hoje um grande desafio de esmerar-se no cuidado da liturgia, “emprestando a Deus suas mães” e seu ser por inteiro.
Isto significa evitar protagonismos que podem obscurecer a ação divina. Também no serviço litúrgico é válida a fórmula de São Josemaría: “Ocultar-se e desaparecer é comigo mesmo, que somente Jesus brilhe” (São Josemaría, Carta com motivo das bodas de ouro sacerdotais, 28-I-1975). Este princípio corresponde a lógica da fé e da visão sobrenatural. Somente desde a fé se pode entender em profundidade a eficácia sobrenatural que encerra o princípio de “emprestar ao Senhor minhas mãos”; e se aceitam com gosto as consequências práticas as quais conduz: fidelidade à fé e à doutrina católica, e obediência delicada às normas litúrgicas:
“Que coloqueis sempre um particular empenho em seguir com toda docilidade o Magistério da Santa Igreja; e, como consequência, que também cumpris, com delicada obediência, todas as indicações da Santa Sé em matéria litúrgica, adaptando-os com generosidade as possíveis modificações – que sempre serão acidentais – que o Romano Pontífice possa introduzir na lex orandi” (São Josemaría,Carta 8-VIII-1956, n. 22).
As mãos do sacerdote devem ser as mãos de uma pessoa enamorada, que sabe tratar com delicadeza as coisas do Senhor e, muito especialmente, tudo o que se relaciona com o culto divino. O descuido de igrejas, altares e objetos de culto transmite inevitavelmente certa sensação de ausência de Deus ou de indiferença. Para fazer frente ao mundo materialista, é necessário um cuidado atento de tudo aquilo relacionado com a presença sacramental do Senhor na Eucaristia. Numa celebração litúrgica imbuída de espírito de adoração encerra-se uma sóbria beleza, que eleva o espírito a Deus e comunica a presença do Sagrado. São Josemaría viveu sempre com a preocupação de que nunca é demais a dignidade do culto.
“Tratai bem os objetos de culto: é manifestação de fé, de piedade e dessa nossa bendita pobreza que, se nos leva a destinar ao culto o melhor daquilo que podemos dispor, nos obriga por isso mesmo a trata-lo com a mais sensível delicadeza: sancta sancte tractanda! São joias de Deus. Os cálices sagrados e as alfaias santas e o demais que pertence a Paixão do Senhor… por seu consorcio com o Corpo e o Sangue do Senhor devem ser venerados com a mesma reverência que seu Corpo e seu Sangue (S. Jerônimo, Epist. 114, 2)” (Ibid., n. 23).
4. «Empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser».
Sacerdote cem por cento.
Depois de ter considerado como o sacerdote empresta ao Senhor sua voz e suas mãos, chegamos, como em um in crescendo de identificação com Cristo, a uma formulação abrangente da identidade sacerdotal: “empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser”. Esta fórmula, referida à celebração eucarística, na qual o sacerdote atua in persona Christi Capitis, pode estender-se analogamente à inteira vida do sacerdote, constituindo a sua mais íntima aspiração: ser, sempre e em tudo, ipse Christus, o mesmo Cristo.
São Josemaría descrevia com força esse sentido de totalidade próprio do sacerdote. Dirigindo-se a um grupo de sacerdotes recém ordenados, expressava da seguinte maneira: “Receberam o Sacramento da Ordem para ser, nada mais e nada menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por cento” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).
Ao mesmo tempo, é evidente que sempre é indispensável à colaboração entre sacerdotes e leigos, cada um segundo a missão que lhes é própria. Como escrevia São Josemaría, “esta colaboração apostólica é hoje importantíssima, vital, urgente” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 3). Por uma parte, porque os presbíteros, enquanto tais, não têm acesso a muitos ambientes profissionais ou sociais. Por outra parte, porque os leigos, para serem verdadeiramente “outros Cristos” necessitam da vida sacramental e, por tanto, o recurso ao ministério sacerdotal. Sem vida interior, o leigo terminará por mundanizar-se, ao invés de cristianizar o mundo: é necessária uma intensa vida sobrenatural para influenciar cristãmente em ambientes onde parece ter desaparecido a pegada de Deus.
“No exercício do apostolado, os leigos têm absoluta necessidade do sacerdote, no momento em que chegam ao que chamo o muro sacramental, como os sacerdotes – especialmente em meio da indiferença religiosa, quando não se trata ademais de um ataque brutal à Religião, na sociedade desses tempos – tem necessidade dos leigos, para o apostolado” (Ibid.).
Esta colaboração é eficaz na medida em que respeita a natureza mesma da vocação de cada um: o leigo deve ser “Cristo” em meio do mundo, nas circunstâncias normais da sua vida: na convivência com seus familiares, com aqueles que compartilha projetos e afãs. Ao mesmo tempo, o sacerdote deve ser sempre e inteiramente sacerdote, vivendo para sustentar e alentar o afã de santidade de homens e mulheres, com uma entrega abnegada em seu ministério. Dificilmente haverá leigos que perseverem no empenho de buscar a santidade na vida ordinária, sem presbíteros “dedicados integralmente ao seu serviço, que se esqueçam habitualmente de si mesmos, para preocupar-se somente das almas” (Ibid.).
São Josemaría repetia com frequência que tinha uma só panela (un solo puchero) para todos, cujo conteúdo é, em síntese, a busca da santidade no meio das ocupações cotidianas. Dessa panela podem se alimentar o pai e a mãe de família, o engenheiro, o advogado, o médico, o operário, e também o sacerdote. E o sacerdote desempenha um papel insubstituível para ajudar os fiéis a ser santos: há de servir a todos, é sacerdote para os demais. Pela missão que recebeu de Deus tem uma especial obrigação por buscar a santidade. “Muitas coisas grandes dependem do sacerdote: temos a Deus, trazemos a Deus, damos a Deus” (Ibid., n. 17).
Por isso o fundador do Opus Deu falava em ser sacerdote cem por cento, que é a consequência da fazer da própria vida aquilo que acontece na Santa Missa: emprestar ao Senhor o corpo e a alma, dar-lhe tudo. Significa também que o sacerdócio não é um emprego, nem uma tarefa que ocupa parcialmente a jornada, como outros trabalhos. Para São Josemaría não existem âmbitos da existência pessoal que não sejam sacerdotais: até nas situações aparentemente mais intranscendentes, ou nas ocupações profanas, o sacerdote é sempre sacerdote, escolhido entre os homens, constituído em favor dos homens (Cf. Hb 5, 1).
Plenamente congruente com esse “emprestar meu corpo a Senhor” é o dom do celibato sacerdotal. Em meio do mundo, que facilmente tende a banalizar a dignidade do corpo, cobra especial significado entregar totalmente o corpo a Nosso Senhor Jesus Cristo na celebração eucarística. O celibato de Jesus Cristo ilumina com toda sua força e resplendor o celibato do sacerdote. Cristo, nos seus anos de existência terrena e na vida da sua Igreja, demonstrou a que grau extraordinário de paternidade e maternidade, de caridade sem limites, pode-se chegar com esse dom.
Ao longo da sua grande experiência pastoral, São Josemaría experimentou continuamente a necessidade de uma forte identidade sacerdotal: não é verdade que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem a mais; o povo cristão, o que deseja do sacerdote é que seja sacerdote. Na sociedade atual, onde poucos pretendem ofuscar a Deus, os cristãos necessitam perceber com mais razão ainda a presença de Cristo no sacerdote; necessitam e esperam, em palavras de São Josemaría, “que se destaque claramente o caráter sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem constituir-se em chefe ou militante de bandeiras humanas, sejam do tipo que sejam; que ponha amor e devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que console os enfermos e aos afligidos; que dê doutrina na catequese de crianças e adultos, que pregue a Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana que – embora conhecesse perfeitamente – não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que tenha conselho e caridade com os necessitados. Em uma palavra: se pede ao sacerdote que aprenda a não estorvar a presença de Cristo nele” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).
*.*.*
Esta última frase pode talvez resumir o desafio que o mundo atual lança aos ministros sagrados. Aos homens de todos os tempos, o sacerdote deve fazer presente a Deus, e para isto, deve aprender a emprestar a Cristo sua voz, suas mãos, sua alma e seu corpo: todo seu ser. Assim acontece principalmente quando administra os sacramentos ou na pregação, porém não somente nesses momentos. A dinâmica própria do sacramento da Ordem, cujo centro e cume é a Eucaristia, leva a doar-se inteiramente, ao longo do dia, de corpo e alma, a Cristo.
A vida terrena de Santa Maria, Mãe de Cristo, Sacerdote Eterno, e Mãe dos sacerdotes, foi um “faça-se sincero, entregado, cumprido até as últimas consequências, que não se manifestou em ações espetaculares, mas sim no sacrifício escondido e silencioso de cada dia” (São Josemaría, É Cristo que passa, n. 172). Na Virgem se demonstra a eficácia dessa atitude. Por isso Maria, permanentemente, continua fazendo presente a Deus nas casas, nas ruas. A Mãe de Deus é, muitas vezes, o último reduto de fé, daquele que não poucas vezes brota de novo a conversão e o descobrimento da alegria da vida cristã em meio do mundo.
+ Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei
Fonte: Presbíteros

27 de jun. de 2016

Arcebispo de Fortaleza convoca Povo de Deus para a Caminhada com Maria de 2016


Pela décima quarta vez a Arquidiocese de Fortaleza realiza da CAMINHADA COM MARIA por ocasião da Solenidade de Nossa Senhora da Assunção – dia 15 de agosto.
Em sintonia com o ANO JUBILAR DA MISERICÓRDIA, o tema deste ano é “Caminhamos com Maria, Mãe da Misericórdia
Dia 15 de agosto, a partir das 14 horas, do Santuário Nossa Senhora da Assunção até a catedral Metropolitana de Fortaleza.
Informações (85) 3388-8703
Fonte: Arquidiocese de Fortaleza

8 de jun. de 2016

Padre viaja mais de quatro mil quilômetros para anunciar a Misericórdia a pedido do Papa

Neste final de semana padre Rafhael Maciel viajou mais de quatro mil quilômetros para anunciar a Misericórdia em nome do Papa Francisco no Acre, estado em que a Arquidiocese de Fortaleza mantém uma missão, dentro do projeto “Igrejas irmãs”.O sacerdote está entre os mil padres – de um universo de quatrocentos mil no mundo- nomeado pelo Romano Pontífice para o ofício de Missionário da Misericórdia durante este Ano do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.


A programação do Missionário da Misericórdia constou de visitas à Paróquia de Capixaba, fronteira com a Bolívia; atendimento à confissões e missas na Catedral Metropolitana, paróquia de Santa Inês e encontro com os padres na Cidade do Rio Branco. “É uma experiência missionária junto aos sacerdotes de nossa Arquidiocese que estão em missão nesse estado com realidades tão desafiantes”, contextualiza padre Rafhael.


O sacerdote tem buscado atender o apelo dos últimos papas que pede a volta da Igreja à sua essência missionária, próxima ao povo de Deus e determinada a ir às periferias do mundo. Padre Rafhael, além de reitor do Seminário Propedêutico, atua na internet como youtuber no canal Jubileu 16 e atendimento a diversos pedidos de celebração, pregação e confissões, em paróquias, Campus universitário ou praças.

Fonte: Ancoradouro 


Fique ligado - Jubileu 16